Anais do XV Fórum Brasileiro da Abordagem Centrada na Pessoa

Resumo

Este número especial da Revista Saúde & Ciência reúne trabalhos apresentados no XV Fórum Brasileiro da Abordagem Centrada na Pessoa, realizado entre os dias 17 e 23 de agosto de 2025, na cidade de Vassouras, Rio de Janeiro. O evento expressou, mais uma vez, a vitalidade e a diversidade do movimento centrado na pessoa no Brasil, afirmando a potência de uma prática que segue se reinventando diante dos desafios de nosso tempo.

As produções aqui reunidas refletem diferentes modos de viver, pensar e praticar a ACP — da clínica à pesquisa, da formação à ação comunitária, do diálogo com a filosofia às urgências sociais que atravessam nossas relações. Para favorecer o encontro com essa pluralidade, organizamos a apresentação dos artigos em torno de alguns eixos de sentido.

O primeiro deles reúne reflexões e experiências sobre a prática clínica e a formação de terapeutas, incluindo relatos de supervisão, experiências em grupo e a integração com outras modalidades de cuidado. Em seguida, encontramos textos que retomam os fundamentos e horizontes teóricos da abordagem, revisitando temas como a experiência, a empatia e o encontro humano.

Também compõem este número trabalhos que dialogam com gênero, sexualidade e feminismos, e aqueles que tensionam a ACP a partir das discussões sobre raça, racialidade e interseccionalidade, propondo uma prática mais crítica e inclusiva. Outros artigos aproximam a abordagem de contextos educacionais e comunitários, narrando experiências de escuta e empoderamento de jovens. Há ainda contribuições que situam a ACP diante dos desafios da contemporaneidade — como o neoliberalismo, a violência e as transformações sociais —, além de reflexões sobre a linguagem e o diagnóstico como recursos relacionais no cuidado.

Mais do que apresentar resultados, este número testemunha a força de um pensamento e de uma prática que se constroem no encontro — um movimento que segue apostando na escuta, na presença e na confiança que nos move como pessoas e como coletivo.

Encerrando o volume, apresentamos o manifesto “O grito preso na garganta”, produzido coletivamente por participantes do Fórum. O texto emerge da vivência encarnada de pessoas negras no espaço do evento e convoca a uma escuta profunda sobre as marcas da colonialidade que ainda atravessam nossos encontros. Sua presença neste número é um gesto político e ético: o de afirmar que a Abordagem Centrada na Pessoa se faz também quando olhamos de frente para as estruturas que produzem dor e desigualdade — e quando nos dispomos a transformar, juntos, o modo como existimos e nos relacionamos.